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Explorando a coleção de fotografia de belas artes que apresenta sementes indígenas

  • Foto do escritor: Mirna Wabi-Sabi
    Mirna Wabi-Sabi
  • 14 de ago. de 2023
  • 4 min de leitura

Atualizado: há 1 hora

Seeds and Tales é um projeto de fotografia impressa e belas-artes, por Riccardo Riccio em colaboração com a empresa agroecológica brasileira Trovão Tropical. Juntos, embarcando numa jornada extraordinária no Brasil e imergindo em comunidades nativas, eles cumpriram a missão de colher sementes que guardam histórias encantadoras.

Ultramacro

A fotografia macro oferece um mundo cativante de close-ups extremos, que nos permite mergulhar nos detalhes minuciosos de pequenos objetos. Ao utilizar lentes especializadas projetadas para fotografia ultra close-up, pequenas sementes foram amplificadas para além das proporções do tamanho real. Essa técnica revela detalhes surpreendentes, apresentando as maravilhas ocultas até mesmo de sementes microscópicas.

Usando a técnica ultramacro, Ricardo Riccio captou com habilidade a essência e a beleza dessas sementes extraordinárias. Cada fotografia mostra os detalhes, texturas e cores elaboradas que tornam cada semente única e cativante.

​A coleção de fotografias resultante foi transformada em uma série de impressões artísticas, cujos lucros de venda vão em parte para o apoio a hortas urbanas e comunidades indígenas no Brasil.

As imagens são cuidadosamente trabalhadas para preservar contos ancestrais e magnificar o universo de potencial dessas joias minúsculas. Cada imagem conta uma história, evocando um sentimento de admiração e apreciação pelas maravilhas do mundo natural.


Os destaques dessa semana do projeto impresso de fotografia de belas artes de sementes indígenas brasileiras, fotografadas usando a tecnologia ultramacro:


Amendoim Paraguaio Bicolor

O amendoim é uma semente nativa da América do Sul, seu centro de origem sendo provavelmente a região do Chaco paraguaio. Na língua Tupi, Mãdu’bi significa ‘enterrado’, e diversos nomes populares para essa planta são derivados desse conceito indígena – Minduim, Minduí, Mindubi. Isso é porque essa leguminosa cresce sob o solo em vagens de uma a três sementes comestíveis. Devido ao seu alto teor de proteínas e gorduras, o amendoim é um alimento com o potencial humanitário de combate à fome e desnutrição infantil. Por isso a pasta de amendoim compõe a base de alimentos terapêuticos empregados em ações com esse propósito. Uma variedade crioula da semente, como esse amendoim paraguaio bicolor, é nativa, livre de manipulações genéticas, e desconhecida das tecnologias agroindustriais modernas.

Um projeto de fotografia de belas artes impressa de sementes indígenas brasileiras. Tecnologia ultramacro.
Amendoim Paraguaio Bicolor

Semente sâmara não identificada

Essa semente é muito distinta para ser identificada com precisão. Como uma semente alada deslizante, ela se dispersa com o vento e incorpora um simbolismo espiritual amplamente utilizado em técnicas de meditação. Seu potencial de movimento é muitas vezes ignorado como campo de estudo, especialmente no que se denomina dispersão secundária – a distância entre sua origem e sua germinação. Mesmo assim, essa família de sementes inspirou diversas inovações na aviação.


Uni

Cozinhar o Uni (Banisteriopsis caapi) com a Chacrona (Psychotria viridis) gera a famosa poção ritualística chamada Ayahuasca. O cipó Banisteriopsis caapi é uma trepadeira nativa das florestas da America do Sul, abundante na floresta úmida da Amazôna no Brasil, Peru, Venezuela, Equador e Colômbia. Ela é conhecida como caapi ou cipó-mariri, mas pelo povo Yawanawá essa planta robusta foi batizada de Uni. O Uni contém um inibidor chamado monoamina oxidase, que provê a absorção do DMT no corpo humano. A Chacrona é um arbusto que contém DMT, ou Dimetiltriptamina, e por isso o casamento entre essas duas plantas fornece os elementos essenciais para a criação de uma medicina indígena milenar e ancestral que foi imprescindível para o desenvolvimento espiritual de diversas culturas. Esse casamento alquímico é particular e delicado. Ele possibilita a expansão da consciência humana a partir de visões, sensações, memorias e pensamentos profundos. A Ayahuasca é uma bebida consumida há milênios em rituais xamânicos ameríndios, induzindo tais estados alterados da mente. Como bebida, ela é classificada enteógena, ou seja, uma substância psicoativa que induz uma experiência de transcendência e contato com o divino. Um dos efeitos mais relatados da Ayahuasca é a dissolução do ego. O desmanchar do “eu” como conceito vem acompanhado do fenômeno cunhado na psicologia analítica como ‘morte psíquica’. Essa morte meta/eufórica viabiliza a realização da comunhão com um todo universal e gera uma consciência de plena união.


Café

A humanidade se relaciona com o café há mais de um milênio. Essa relação começou na região que hoje é conhecida como Etiópia, no Século IX, quando um pastor chamado Kaldi notou que após comerem os frutos vermelhos de um arbusto silvestre, suas cabras ficavam mais ativas e não dormiam a noite. Kaldi então colheu e levou esses frutos para um líder religioso, e foi nessa espécie de monastério que o café se transformou na bebida mais consumida do mundo. A transformação dessa planta magnífica em bebida foi iniciada por monges e era consumida de forma ritualística. De certa forma, ela até hoje é. O café foi a bebida de devotos em rituais do misticismo islâmico Sufista no Yemen. O kave, ou "vinho das arábias", se popularizou pelo mundo árabe num contexto cultural que proibia o consumo de álcool, mas abraçava o estímulo da cafeína. Com a expansão do comércio árabe e do império otomano, o consumo de café seguiu essas rotas de propagação pelo mundo. Essa era de expansão foi chamada de Renascimento Islâmico ou era de ouro do mundo árabe, e durou mais de meio milênio, entre os Séculos VIII e XV. Durante esse período houve um boom civilizacional e agricultural, onde a literatura, as navegações e tecnologias se desenvolveram sem precedentes ­– estimulados pelo consumo avido de café. Para assegurar o monopólio desse produto de alta demandada no ocidente, os comerciantes árabes vendiam os grãos de café já torrados, assim evitando seu plantio fora dos domínios árabes. Só em 1616, quase um milênio depois que Kaldi notou a mudança de comportamento em suas cabras, que a primeira muda de café foi contrabandeada do porto de Mokha, no Yemen. Navegadores holandeses levaram uma muda para uma de suas colônias na ilha de Java, hoje parte da Indonésia, onde conseguiram cultivar e criar com sucesso a variedade de café chamada Mocca ou Mocha Java. Por volta de cem anos depois desse contrabando pelos holandeses, a corte francesa acha uma muda de café do jardim botânico de Amsterdam. Uma muda dessa planta é então levada até a ilha de Martinica em 1730, onde as primeiras plantações de café francesas são cultivadas e o café começa a ser exportado para a Europa. O início do relacionamento da civilização árabe com o café corresponde com o início da era de ouro do mundo islâmico. E essa era chega ao fim enquanto a semente dessa planta é usada por outros povos na construção de seus próprios impérios.


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Escrito por Mirna Wabi-Sabi

Fotografado por Riccardo Riccio

Conceitualizado por Trovão Tropical

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