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S&T

A Página de Cada Semente (até a 99)

Hymenaea stigonocarpa

Jatobá do cerrado

Jatobá, na língua Tupi, significa "árvore com frutos duros". O jatobá do cerrado é encontrado no cerrado e cerradão, que se distinguem pela qualidade de dureza das folhas no bioma do último, uma característica denominada esclerófila. Plantas esclerófilas são altamente resistentes à falta de água e nutrientes na terra. A dureza dos frutos dessa planta é um resquício da megafauna brasileira do período Pleistoceno, entre 50 e 10 mil anos atrás. Nesse período, plantas contavam com o consumo de seus frutos por mamíferos gigantes, para dispersarem suas sementes. Esses mega herbívoros, desde então, foram extintos, o que afetou “muitos tipos de processos ecológicos, como por exemplo, a dispersão de sementes”. Hoje, plantas que se encontram “órfãs de seus mega-dispersores”, são descritas como tendo uma síndrome de megafauna (citações de Jacqueline Salvi de Mattos, em “Biogeografia de Frutos de Megafauna”.


Persea americana

Abacate

O cultivo de abacate é tão antigo quanto a invenção da roda. Cinco mil anos atrás, na Mesoamérica, onde, hoje, é considerado o sul do México, a domesticação do abacate foi iniciada. Antes disso, essa fruta dependia de mega mamíferos, hoje extintos, para consumir e dispersar essa grande e levemente toxica semente. Diz-se que, “em teoria, a semente estaria pronta para brotar no momento em que fosse” expelida. Terreiros de Candomblé e Umbanda, religiões da diáspora africana, utilizam as folhas de abacateiro em banhos de limpeza e rituais para divindades. Há também um senso comum em áreas rurais brasileiras de que o abacate não gosta de ser plantado sozinho, sem outros abacateiros por perto. Sozinho, ele fica triste, e não produz muitos abacates. Na realidade, o abacateiro produz flores masculinas e femininas que desabrocham em períodos diferentes do dia e dependem diretamente da ação de polinizadores para frutificar. Portanto, quando as flores femininas estão abertas, possivelmente não haverá flores masculinas para a polinização ocorrer. Dessa forma, é necessário ao menos dois pés de abacate para garantir uma colheita abundante.


Dipteryx alata

Baru

O Baru (Dipteryx alata) é nativo do bioma do cerrado e produz uma castanha que é considerada um super alimento. O fruto do baruzeiro é grande e possui uma casca muito dura, o que resulta na limitação de seu consumo por mamíferos pequenos. Por isso, essa fruta é associada à alimentação da megafauna que habitava o Brasil. A extinção desses mamíferos gigantes comprometeu o desenvolvimento de espécies vegetais como essa, e atualmente, o baruzeiro é visto como em estado vulnerável pela IUCN Red List. Como um produto vendido por associações extrativistas artesanais na região do cerrado, a castanha de Baru tem sido preservada através do cultivo e consumo humano.


Milpa

As Três Irmãs

A união entre Milho, Feijão e Abóbora é ancestral. Ela é conhecida como as 'Três Irmãs', ou Milpa, uma palavra derivada da língua indígena Náhuatl, da família de línguas Uto-Astecas. Como uma técnica agrícola antiga usada nas Américas por povos nativos, as Três Irmãs representam uma epistemologia pré-colonial de relevância científica para a trajetória da existência humana. As sementes de milho, feijão e abóbora, quando plantadas juntas, maximizam a produtividade de cada uma das três, enriquece o solo, e contribui robustamente para a nutrição das pessoas. Elas se complementam não apenas em crescimento e desenvolvimento, mas também em valor nutricional. O milho, em sua busca pelo máximo de luz possível, cresce verticalmente e viabiliza uma estrutura estável para o feijão enramar. O feijão, por sua vez, fornece Nitrogênio ao solo, um elemento indispensável para o crescimento saudável de diversas plantas, inclusive do milho. A abóbora permanece rasteira, e, com suas folhas largas, ela protege o solo e raízes rasas do sol direto, e previne o desenvolvimento de plantas espontâneas indesejadas. Esse trio é famoso até em canções da música popular brasileira. Luiz Gonzaga, um dos maiores compositores sertanistas do Brasil, descreve de forma poética a chegada das chuvas nas lavouras áridas do sertão pernambucano: "...Da chegada das chuvas no sertão Ver a terra rachada amolecendo A terra, antes pobre, enriquecendo O milho pro céu apontando feijão pelo chão enramando E depois, pela safra, que alegria…" O Seeds and Tales criou essa obra onde a Milpa é protagonista, homenageada como uma das primeiras criações tecnológicas de agricultura holística.


Phaseolus vulgaris

Feijão Crioulo Roxo Rajado

Essa variedade rajada e roxa do feijão comum foi adquirida da Fazenda Recanto do São Francisco no Estado de Minas Gerais. A seleção de feijões crioulos, assim como de milhos, às vezes se dá por motivos estéticos, criando abundância de cores e padrões. Guardiões dessas variedades genéticas preservam com muito orgulho essa abundância e realizam trocas entre comunidades tradicionais. O Phaseolus vulgaris selvagem é nativo das Américas, domesticado na Mesoamérica e posteriormente na região dos Andes. Ele viajou para o sul, provavelmente ao lado da abóbora e do milho. Essas três culturas mesoamericanas constituem as "Três Irmãs" e são fundamentais para as antigas técnicas agrícolas indígenas americanas. Juntas, elas se complementam não apenas em crescimento e desenvolvimento, mas também em valor nutricional.


Cucurbita moschata

Abóbora Jerimum

Essa variedade de abóbora crioula foi cultivada por Walterci, um pequeno produtor rural de Santa Rita do Jacutinga, no Estado de Minas Gerais. A pequena produção de Walterci garante sua subsistência e renda através da venda dos seus excedentes. Ao lado do milho e do feijão, a abóbora é uma das três culturas mesoamericanas chamadas de “Três Irmãs”, que são fundamentais para as antigas técnicas agrícolas de povos nativos das Américas. Juntas, elas se complementam não só em crescimento e desenvolvimento, mas também em valor nutricional. Nativa das Américas, a Cucurbita moschata foi distribuída pelo mundo com viagens colonizadoras europeias. Esses novos ambientes potencializaram a diversidade e as variações genéticas dessa planta, tornando-a não só naturalizada mas também tradicional em novas terras. As cultivares do Zimbábue, por exemplo, são múltiplas, únicas, não-comercializadas e cultivadas com o milho, como encenado pelos ancestrais ameríndios.


Zea mays

Milho crioulo lobão

O milho crioulo alaranjado lembra a pelagem do lobo guará, nativo do cerrado brasileiro. Esta variedade foi adquirida da fazenda Recanto do São Francisco, no estado de Minas Gerais. Os cultivares dessa fazenda foram passados de mão em mão, de comunidades indígenas ao fazendeiro e pesquisador Ernst Götsch, até se consolidarem como variedades de características próprias do sul mineiro. Na Agricultura Sintrópica, sob orientação de Götsch, o milho crioulo é usado em experimentos que visam aprimorar a produção de alimentos e ao mesmo tempo recuperar terrenos degradados e reflorestar áreas desmatadas.


Zea mays [Cusco]

Milho Cusco Branco gigante

Este milho é de origem peruana, mais especificamente da região de Cusco. Sendo uma das espécies mais exportadas pelo Peru, ela é embaixadora da diversidade de raças locais desse país andino. Considerando que “a primeira tarefa dos Incas ao conquistar novos territórios foi sempre construir obras de irrigação com o propósito específico de plantar milho”, e que Cusco foi a capital do Império, pode-se dizer que esse milho foi um pilar central dessa antiga civilização. Hoje, Cusco é um patrimônio mundial protegido, como “uma das mais antigas cidades continuamente habitadas do Hemisfério Ocidental”. Como o Milho Gigante de Cusco foi adaptado ao clima brasileiro, alguns exemplares dessas sementes foram doados ao Assentamento Mário Lago (do MST). As centenas de variedades de milho que temos hoje em dia são fruto da seleção genética iniciada por povos ameríndios há 10 mil anos no México. Seis milênios e meio atrás, a região sudoeste da Amazônia foi central nesse desenvolvimento genético. Ao acompanhar os fluxos migratórios de povos ameríndios, os milhos ganharam novas características, formas e cores. A partir da década de 80, cultivares crioulos do milho passaram a sofrer grande ameaça por conta da proliferação de sementes geneticamente modificadas. Essas sementes patenteadas pelo complexo agro-industrial tem forte apelo comercial e são plantadas em monocultivos altamente dependentes de agrotóxicos. Ao final de um ciclo monocultural, o que resta é um solo degradado e empobrecido, e uma área desertificada.


Zea mays [Huilcaparu]

Milho ancestral Huilcaparu

O milho Huilcaparu é ancestral e originário da região que hoje chamamos de Bolívia, em particular do Vale de Cochabamba. Seu valor para as civilizações milenares das Américas é claro, “a primeira tarefa dos incas ao conquistarem novos territórios sempre foi construir obras de irrigação com o propósito específico de plantar milho.” (Academia Nacional das Ciências - EUA - 1960) Essa espécie de milho foi apropriada nos anos 60 por universidades estadunidenses para pesquisas sobre mutações genéticas induzidas pela radiação. A paramutação, como conceito epigenético de indução de mudanças de DNA (em plantas, e depois em ratos), foi observada pela primeira vez em milhos, com sua habilidade de afetar as cores da semente. As centenas de variedades de milho que temos hoje em dia são fruto da seleção genética iniciada por povos ameríndios há 10 mil anos no México. Seis milênios e meio atrás, a região sudoeste da Amazônia foi central nesse desenvolvimento genético. Ao acompanhar os fluxos migratórios de povos ameríndios, os milhos ganharam novas características, formas e cores. A partir da década de 80, cultivares crioulos do milho passaram a sofrer grande ameaça por conta da proliferação de sementes geneticamente modificadas. Essas sementes patenteadas pelo complexo agro-industrial tem forte apelo comercial e são plantadas em monocultivos altamente dependentes de agrotóxicos. Ao final de um ciclo monocultural, o que resta é um solo degradado e empobrecido, e uma área desertificada.


Zea mays [Checche]

Milho Checche

O milho Cheeche é uma espécie ancestral andina que o projeto Seeds and Tales conseguiu introduzir em um sistema agroflorestal na região serrana do Estado do Rio de Janeiro, por meio do agricultor Léo Novaes. Até hoje, após milênios em cultivo domesticado, esse milho ainda é usado como moeda de troca. Quanto maior o grão, mais valioso ele é. Nos vales sagrados dos Incas, esse tipo de troca se chama chalasq’a, ou chalakuy, e a produção de cereais é uma ocupação significativa, especialmente para mulheres indígenas dos Andes. Infelizmente, essa cultura de troca ancestral e milenar, nos dias de hoje, pode ser contaminada pela economia moderna, e praticada de forma abusiva. Dinâmicas de poder que marginalizam povos indígenas podem interferir com a possibilidade de negociação de produtores tradicionais desses cereais.


Zea mays [Checche Colca]

Milho Checche Colca

A variedade de milho Checche tem origem nos Andes peruanos e foi doada para um projeto agroecológico na região serrana do Rio de Janeiro. Essa variedade foi reproduzida com sucesso pelo agricultor Léo Novaes, que se tornou guardião dessa linha genética de Zea mays. O Vale do Colca, no Peru, onde esse milho é ancestralmente cultivado, é habitado por descendentes do povo indígena Collagua, que preservam especies nativas e métodos milenares agriculturais. Os Aymara, a família étnica e linguística indígena da qual os Collaguas fazem parte, habitaram essa terra antes dos Incas e resistiram com o poder da adaptabilidade à transformação das eras.


Zea mays [Cancha Serrana]

Milho andino Cancha Serrana

Esse milho tem origem nos Andes peruanos e é cultivado no Brasil. Essa variedade foi adquirida do guardião de sementes chamado Thiago, e cedida ao agricultor Léo Novaes para que fosse reproduzido em um projeto de agricultura ecológica na região serrana do Rio de Janeiro. As centenas de variedades de milho que temos hoje em dia são fruto da seleção genética iniciada por povos ameríndios há 10 mil anos no México. Seis milênios e meio atrás, a região sudoeste da Amazônia foi central nesse desenvolvimento genético. Ao acompanhar os fluxos migratórios de povos ameríndios, os milhos ganharam novas características, formas e cores. Nos Andes peruanos, foram encontradas evidências milenares de que sementes seguem a migração humana. Os Incas, como pioneiros da domesticação de plantas e da agricultura, desenvolveram métodos únicos de cultivo de milho em contextos adversos de vales e altitudes. Assim, em seus vales sagrados, variedades resilientes e belas de milho começaram a se desenvolver.


Zea mays [Adriana Amarelo]

Milho Amarelo da Adriana

Essa variedade de milho foi cultivada pela Fazenda Recanto do São Francisco em Minas Gerais, homenageando a guardiã de sementes Adriana que trouxe esta variedade genética crioula para região. Uma variedade de sementes crioulas é nativa, livre de manipulações genéticas comerciais e desconhecida pelas tecnologias agroindustriais modernas. Hoje em dia, que as sementes se tornaram mercadorias patenteadas por empresas que desenvolvem sozinhas novas sequências de DNA de culturas, as sementes crioulas e pessoas protetoras são a vanguarda de um movimento que garante a sobrevivência da flora mundial, das suas origens e magnífica diversidade. As sementes patenteadas pelo complexo agroindustrial têm forte apelo comercial e são plantadas em monoculturas altamente dependentes de agrotóxicos. Ao final de um ciclo monocultural, o que resta é um solo degradado e empobrecido e, desde a década de 1980, o milho crioulo é um exemplo de cultivar que sofre com essa ameaça.


Zea mays [Adriana Roxo]

Milho Roxo da Adriana

Essa variedade de milho crioulo de cor roxa recebeu o nome de Adriana como forma de homenagear a guardiã de sementes que o trouxe para sua propriedade e o reproduziu. Ela foi adquirida da fazenda Recanto do São Francisco. Os cultivares dessa fazenda foram passados de mão em mão, de comunidades indígenas ao fazendeiro e pesquisador Ernst Götsch, até se consolidarem como variedades de características próprias do sul mineiro. Na Agricultura Sintrópica, sob orientação de Götsch, o milho crioulo é usado em experimentos que visam aprimorar a produção de alimentos e ao mesmo tempo recuperar terrenos degradados e reflorestar áreas desmatadas.


Zea mays [Bicudo]

Milho preto bicudo

Embora adaptado ao clima do centro-oeste brasileiro, esse milho é originário dos Andes peruanos, onde foram encontradas evidências milenares de que sementes seguem a migração humana. As centenas de variedades de milho que temos hoje em dia são fruto da seleção genética iniciada por povos ameríndios há 10 mil anos no México. Seis milênios e meio atrás, a região sudoeste da Amazônia foi central nesse desenvolvimento genético. Ao acompanhar os fluxos migratórios de povos ameríndios, os milhos ganharam novas características, formas e cores. Dada a relevância dessa planta como um dos principais alimentos da base alimentar dessas populações nativas, é comum a existência de ritos e mitos compartilhados que celebram sua importância e diversidade. O povo Ticuna, por exemplo, descreve o milho como isca para estadunidenses nos mitos das aventuras dos irmãos Yoi e Ipi. É interessante observar que, hoje, os Estados Unidos realmente são o maior consumidor de milho no mundo. A partir da década de 80, cultivares crioulos do milho passaram a sofrer grande ameaça por conta da proliferação de sementes geneticamente modificadas. Essas sementes patenteadas pelo complexo agro-industrial tem forte apelo comercial e são plantadas em monocultivos altamente dependentes de agrotóxicos. Ao final de um ciclo monocultural, o que resta é um solo degradado e empobrecido, e uma área desertificada.


Zea mays [Indurata]

Milho Maíz Morado

O milho maíz morado, também conhecido como milho roxo peruano, é o principal ingrediente da bebida típica peruana chicha morada. Essa bebida foi descrita por cientistas como tendo potencial para prevenir o câncer de cólon, e ela tem sido usada em cerimônias ancestrais espirituais por povos da antiguidade peruana. Hoje, há pelo menos 200 variedades de milho, que são frutos da seleção genética iniciada dez mil anos atrás no México, e desenvolvida por povos ameríndios desde então. Seis milênios e meio atrás, a região sudoeste da Amazônia foi central nesse desenvolvimento genético. Ao acompanhar os fluxos migratórios de povos ameríndios, os milhos ganharam novas características, formas e cores. Ao lado da abóbora e do feijão, o milho constitui uma das três culturas mesoamericanas denominadas as “Três Irmãs”, e são fundamentais para as antigas técnicas agrícolas indígenas americanas. Juntas, elas se complementam não apenas em crescimento e desenvolvimento, mas também em valor nutricional. Dada a relevância dessa planta como um dos principais alimentos da base alimentar dessas populações, é comum a existência de ritos e mitos compartilhados que celebram sua importância e diversidade. O povo Ticuna, por exemplo, descreve o milho como isca para americanos nos mitos das aventuras dos irmãos Yoi e Ipi. É interessante observar que hoje, os Estados Unidos realmente são o maior consumidor de milho no mundo. A partir da década de 80, cultivares crioulos do milho passaram a sofrer grande ameaça por conta da proliferação de sementes geneticamente modificadas. Essas sementes patenteadas pelo complexo agro-industrial têm forte apelo comercial e são plantadas em monocultivos altamente dependentes de agrotóxicos. Ao final de um ciclo monocultural, o que resta é um solo degradado e empobrecido, e uma área desertificada.


Vigna unguiculata

Feijão de corda pintadinho

O feijão de corda, ou feijão-fradinho, é uma planta leguminosa anual com alta tolerância a solos áridos e degradados. Graças a essa habilidade, ele prosperou nos sertões semi-áridos Nordestinos. O gênero Vigna possui uma vasta diversidade de cores e formatos, características que nomeiam a variedade do cultivar. Por isso seu título varia de região para região. Originária da África, essa planta foi trazida para o Brasil com início da era colonial, no século XVI. Nesse período, entre 1549 e 1763, Salvador era a capital do Brasil, e vivenciou o comércio escravagista penosamente. A partir dessa cidade, o feijão-fradinho se espalhou para todo o Brasil, e se tornou um ingrediente central nos pratos acarajé e abará, que são ritualisticamente preparados por praticantes de religiões da diáspora africana.


Canavalia gladiata

Feijão espada

Esse feijão é de origem asiática e tem características curiosas. Ele é um cultígeno, ou seja, veio a existir por cultivo humano e não se conhece seu ancestral silvestre. Se ele não é o maior feijão do mundo, está certamente na categoria de um dos maiores, ao chegar a mais de 3 centímetros. Após múltiplas fervuras, esse feijão pode ser consumido seguramente, assim neutralizando substâncias tóxicas existentes nele in natura. Seu sabor neutro e altas quantidades de amido lembram o sabor da batata. Na Coreia, o Canavalia gladiata é usado de forma medicinal, e seu extrato pode ser visto como ingrediente em sabão, visando a saúde da pele.


Phaseolus vulgaris [Mouro]

Feijão Mouro

Essa variedade crioula de feijão foi adquirida de um colecionador de sementes e trocada com um guardião de genéticas da cidade de Baependi, em Minas Gerais. Feijões, assim como milhos, podem possuir centenas de variedades genéticas graças ao processo de polinização cruzada. A polinização cruzada é vantajosa porque essa variedade genética proporciona a adaptabilidade da espécie, e dessa forma, sua sobrevivência. Para Organismos Geneticamente Modificados (OGMs), esse cruzamento natural é visto como ‘contaminação’, e é ativamente prevenido.


Dolichos lablab [Lablab purpureus]

Feijão Mangalô

Esse feijão é de origem Indiana, e foi trazido ao Brasil por populações escravizadas durante o período colonial. Ele é considerado uma PANC (planta alimentícia não convencional). Essa espécie se adaptou bem ao clima do nordeste brasileiro, por ser mais resistente à seca do que o feijão comum (Phaseolus vulgaris). Portanto, ele foi rapidamente absorvido pela cultura culinária da região. No Quênia, esse feijão é conhecido como njahe ou njahi, e por pesquisadores, ele é frequentemente descrito como “subutilizado”. O seu perfil nutricional robusto e sua capacidade de melhorar a qualidade do solo, minimizar as ervas daninhas e de se reidratar, levantam a questão de por que essa cultura não é uma convenção alimentar e agrícola pelo mundo, como é no Quênia. A resposta a essa questão pode residir na economia do colonialismo britânico, que forçou suas colônias a produzirem alimentos tendo em mente as preferências de consumo europeias, em detrimento das suas próprias. Hoje, diz-se que o Njahi é a variedade de feijão mais cara do Quênia.


Phaseolus lunatus [Lobisomem]

Fava orelha de lobisomem

O Phaseolus lunatus é historicamente encontrado na América Central e do Sul. Dois conjuntos genéticos de feijão cultivado apontam para eventos de domesticação independentes. O feijão mesoamericano está distribuído nas planícies neotropicais, enquanto o outro é encontrado nos Andes ocidentais. No Brasil, existem cerca de 200 espécies de Phaseolus lunatus, indicando uma coleção bastante diversificada, uma delas sendo a Fava Orelha de Lobisomem. Seu nome vem da criatura folclórica cuja pelagem é preta e branca. A lenda do lobisomem tem origem na Grécia e foi trazida para o Brasil com os portugueses. O simbolismo da dicotomia entre o bem e o mal, a sombra e a luz, presente no folclore, está impresso nessa semente.


Phaseolus lunatus [Lima]

Fava rajada olho de cabra

O Phaseolus lunatus é historicamente encontrado na América Central e do Sul. Dois conjuntos genéticos de feijão cultivado apontam para eventos de domesticação independentes. O feijão mesoamericano está distribuído nas planícies neotropicais, enquanto o outro é encontrado nos Andes ocidentais. Seu nome em inglês (Lima bean) vem dos rótulos das caixas – “Lima, Peru” – quando eram exportadas para a Europa durante a colonização. Realmente, os Incas foram pioneiros na domesticação de plantas e na agricultura. Mas o ‘Lima bean’ foi influente na cultura Moche pré-Inca, onde se acredita que essas favas são “elementos sagrados que transportam mensagens a serem decifradas” por líderes espirituais. Essa semente foi adquirida de um guardião de sementes chamado Thiago e doada ao projeto de soberania alimentar "Horta na favela" na comunidade da Rocinha, no Rio de Janeiro. Com a aparência de um olho de cabra, ela é uma variedade de fava comestível.


Vicia faba

Fava nacional vermelha

A Vicia faba, conhecida como fava, é uma leguminosa, portanto, ela é uma planta que se adapta bem a solos pouco férteis. Não é o caso com essa espécie que quanto maior a semente, mais rendimento na produção. São as sementes menores que produzem mais vagens. Sua domesticação é tão antiga, que pesquisar suas origens pode ser crucial para entender o ponto em que a humanidade saltou do processo de coleta de alimentos para a produção de alimentos. Estudos identificam sua origem no leste Mediterrâneo.


Mucuna pruriens

Mucuna Preta

A Mucuna preta é uma leguminosa trepadeira. Por ser uma leguminosa, esse feijão desenvolve uma relação simbiótica com bactérias em suas raízes, o que leva à conversão do nitrogênio que está no ar em um recurso para as plantas no solo. Esse processo, denominado fixação de nitrogênio, representa uma transformação vital. Por isso, ela pode ser usada para recuperar solos degradados e é empregada em cultivos agroecológicos. As folhas dessa planta e o seu extrato são utilizados há muito tempo nas comunidades tradicionais da África Ocidental como antídoto para picadas de cobra. Já na Índia, a tradição Ayurveda atribui a Mucuna pruriens ao tratamento da doença de Parkinson.


Canavalia ensiformis

Feijão-de-porco

O feijão-de-porco é uma espécie de fava, da família Fabaceae, nativa da América Central e do Sul. Quando plantado, ele tem a habilidade de nutrir o solo, aprimorando as condições do chão para que outras espécies se desenvolvam. Além de ser incrivelmente resistente a solos degradados e ágil em crescimento, ele pode ser consumido por humanos. Porém, seu período de preparo é bem mais longo do que o de um feijão comum, pois toxinas presentes nele podem causar efeitos semelhantes ao do álcool ou da cannabis, e possui fatores “antinutricionais”. Por isso, o uso mais comum dessa fava é como adubo verde, nos nutrindo de forma indireta, através da terra.


Vigna unguiculata [Caupi]

Feijão-caupi

O feijão de corda ou feijão-caupi é uma leguminosa anual com alta tolerância a solos áridos e degradados. Graças a essa habilidade, ele prosperou nos sertões semi-áridos Nordestinos. O gênero Vigna possui uma vasta diversidade de cores e formatos, características que nomeiam a variedade do cultivar. Por isso seu título varia de região para região. Originária da África, essa planta foi trazida para o Brasil com início da era colonial, no século XVI. Além de sua magnitude de benefícios para a saúde, esse feijão é o ingrediente principal do acarajé, um prato amplamente consumido no estado da Bahia, no nordeste brasileiro. Esse prato é preparado ritualisticamente como uma oferenda à divindade Iansã, uma orixá da religião africana diaspórica do Candomblé.


Phaseolus lunatus

Feijão Olho de Tigre

Há centenas de variedades de feijão e fava, mas uma fração minúscula delas faz parte do dia-a-dia de populações urbanas. Esse feijão olho de tigre é uma variedade rara, trocada durante uma vivência agroecológica no sertão do taquari em Paraty-RJ. Sua coloração atípica em tons de vermelho e preto se assemelha ao olho de um felino. Uma semente crioula como esta é nativa, livre de manipulações genéticas comerciais e desconhecida pelas tecnologias agroindustriais modernas.


Cucurbita pepo

Abobrinha

Investigações arqueológicas encontraram evidências de que a cucurbita foi domesticada nas Américas há pelo menos 10.000 anos, tornando-a uma das espécies domesticadas mais antigas. Sementes dessa planta foram encontradas em excrementos fossilizados de mamutes de milhares de anos atrás, indicando que o seu consumo por “herbívoros gigantes” fazia parte de sua tecnologia de dispersão e estratégia de sobrevivência. Essa semente de abobrinha (cucurbita pepo) é uma variedade adquirida de um guardião de sementes e doada a um agricultor assentado do Movimento dos trabalhadores rurais Sem Terra. O MST é um movimento social que busca articular trabalhadores rurais e a sociedade na luta pelo direito da população, garantido pela constituição brasileira, de que terras cumpram sua função social. Ou seja, terrenos, especialmente os rurais, devem, para além de meramente ser propriedade privada, exercer um papel na sociedade como um todo.


Cucurbita spp

Moranga pataca amarela

Investigações arqueológicas encontraram evidências de que a moranga foi domesticada nas Américas há pelo menos 10.000 anos, tornando-a uma das espécies domesticadas mais antigas. Sementes de cucurbita foram encontradas em excrementos fossilizados de mamutes de milhares de anos atrás, indicando que o seu consumo por “herbívoros gigantes” fazia parte da tecnologia de dispersão e da estratégia de sobrevivência dessa planta. Algumas variedades de abóbora são chamadas de Moranga no Brasil e Bugango na região dos Açores, em Portugal. Esses nomes possivelmente têm origem na língua Kikongo, nativa do centro e norte da Angola, que faz parte do território onde a língua portuguesa foi instaurada na época colonial.


Samara não identificada

Semente sâmara não identificada

Essa semente é muito distinta para ser identificada com precisão. Como uma semente alada deslizante, ela se dispersa com o vento e incorpora um simbolismo espiritual amplamente utilizado em técnicas de meditação. Além de sua clara semelhança com uma semente alada circular como a do olmo, é possível identificar esse sujeito como uma semente devido ao seu hilo visível, indicando onde antes estava o talo. Seu potencial de movimento é muitas vezes ignorado como campo de estudo, especialmente no que se denomina dispersão secundária – a distância entre sua origem e sua germinação. Mesmo assim, essa família de sementes inspirou diversas inovações na aviação.


Handroanthus impetiginosus

Ipê roxo (Atlântico)

Esse Ipê roxo da mata atlântica pertencia a um coletor de sementes de Caxambu, em Minas Gerais, Brasil. Geralmente, as variedades de espécies amazônicas são muito maiores que as variedades da Mata Atlântica. Como tal, a Handroanthus impetiginosus não é endêmica, ocorrendo desde o México até a Argentina, e em boa parte da paisagem brasileira. As flores da Handroanthus impetiginosus cobrem a copa alta da árvore de vários tons de roxo e rosa, são belíssimas e atraem abelhas, beija-flores, vespas, borboletas, e também pessoas que fazem chá delas. Em 2020, uma instituição governamental brasileira retirou o ipê da lista internacional de árvores ameaçadas. Logo, organizações não governamentais dedicadas à preservação ambiental entrou na justiça para reverter essa decisão, que de acordo com eles viabiliza ilegalidades em práticas de exportação de madeira. A exportação dessa árvore ainda é vista como uma ameaça à sobrevivência dessa espécie no planeta por entidades que observam fatos ambientais ao invés de fluxos econômicos.


Handroanthus impetiginosus

Ipê roxo

As sementes do ipê-roxo são pequenas e achatadas, com asas que facilitam a sua dispersão pelo vento. Elas são encontradas dentro de vagens, que se abrem quando maduras. As flores da Handroanthus impetiginosus cobrem a copa alta da árvore de vários tons de roxo e rosa. Elas são belíssimas e atraem abelhas, beija-flores, vespas, borboletas, e também pessoas que fazem chá delas. Em 2020, uma instituição governamental brasileira retirou o ipê da lista internacional de árvores ameaçadas. Logo, organizações não governamentais dedicadas à preservação ambiental entrou na justiça para reverter essa decisão, que de acordo com eles viabiliza ilegalidades em práticas de exportação de madeira. A exportação dessa árvore ainda é vista como uma ameaça à sobrevivência dessa espécie no planeta por entidades que observam fatos ambientais ao invés de fluxos econômicos.


Platypodium elegans

Faveiro, Jacarandá Branco

Essa variedade de Jacarandá é encontrada principalmente no bioma do Cerrado. Suas sementes aladas permitem uma ampla dispersão da espécie. Guardiões de variedades genéticas de plantas foram responsáveis por coletar essa semente na floresta, e a disponibilizar para projetos de reflorestamento e agrofloresta. O Jacarandá Branco é nativo do Brasil, e é associado com um botânico alemão do século XIX chamado Vogel. Diz-se que ele foi o primeiro a descrever essa espécie, mas o povo indígena Xavante já a descrevia como ‘wede itsaipro’, ou “árvore com espuma”. Sua folha é rica em Vitamina C e seu fruto alimenta diversos animais, de besouros, a papagaios, a macacos-aranha, além de suas raízes serem capazes de enriquecer o solo com nitrogênio.


Aspidosperma subincanum

Guatambu

Essa espécie de Guatambu foi doada ao Assentamento Mário Lago, em Ribeirão Preto, Brasil, para um projeto de reflorestamento. Ela é usada em projetos desse tipo por ser uma espécie pioneira, ou seja, capaz de se desenvolver em ambientes considerados inóspitos para outras plantas. Sua semente é alada, e dispersa pelo vento. O potencial de movimento de sementes como essa é muitas vezes ser ignorado como campo de estudo, especialmente no que se denomina dispersão secundária – a distância entre sua origem e sua germinação.


Cybistax antisyphilitica

Ipê Verde

‘Ipê’ significa casca dura na língua indígena Tupi. Em geral, a madeira dessas árvores é valorizada por ser forte e flexível, ideal para a produção de móveis e arcos de caça – motivo pelo qual ela foi batizada de pau d’arco. Essa espécie se destaca por possuir flores verdes. De acordo com o fundo Amazônia, sua “casca e folhas podem matar as larvas do Aedes aegypti, o mosquito transmissor da dengue.” Essa semente alada é dispersa pelo vento e pela água, apesar de seu potencial de movimento muitas vezes ser ignorado como campo de estudo, especialmente no que se denomina dispersão secundária – a distância entre sua origem e sua germinação. Mesmo assim, essa família de sementes inspirou diversas inovações na aviação.


Tecoma stans

Ipê Mirim

A Tecoma stans é conhecida como ipê mirim, e é comum na arborização urbana de São Paulo e do Rio de Janeiro. Suas sementes são pequenas, medindo cerca de 1,5 cm de comprimento, e têm uma superfície lisa e brilhante, de cor marrom-clara. Sua raiz tem o potencial de inibir os efeitos do veneno da cobra Naja indiana. Essa semente alada é dispersa pelo vento e pela água, apesar de seu potencial de movimento muitas vezes ser ignorado como campo de estudo, especialmente no que se denomina dispersão secundária – a distância entre sua origem e sua germinação. Mesmo assim, essa família de sementes inspirou diversas inovações na aviação. A família dessa árvore se chama Bignoniaceae, e além de ipê mirim, essa espécie também é conhecida como pau d’arco-amarelo, pau d’arco-bandeira, pau d’arco-roxo, ipê-comum, ipê-do-cerrado e ipê-preto. Nativa da América do Sul, ela pode ser facilmente encontrada na Argentina, Uruguai, Paraguai e no Brasil, principalmente nos estados de Minas Gerais, Goiás, São Paulo e Mato Grosso do Sul. Essa árvore é comum em regiões de cerrado e mata ciliar, onde servem como proteção para rios e lagos.


Banisteriopsis caapi

Uni

Cozinhar o Uni (Banisteriopsis caapi) com a Chacrona (Psychotria viridis) gera a famosa poção ritualística chamada Ayahuasca. O cipó Banisteriopsis caapi é uma trepadeira nativa das florestas da América do Sul, abundante na floresta úmida da Amazônia no Brasil, Peru, Venezuela, Equador e Colômbia. Ela é conhecida como caapi ou cipó-mariri, mas pelo povo Yawanawá essa planta robusta foi batizada de Uni. O Uni contém um inibidor chamado monoamina oxidase, que provê a absorção do DMT no corpo humano. A Chacrona é um arbusto que contém DMT, ou Dimetiltriptamina, e por isso o casamento entre essas duas plantas fornece os elementos essenciais para a criação de uma medicina indígena milenar e ancestral que foi imprescindível para o desenvolvimento espiritual de diversas culturas. Esse casamento alquímico é particular e delicado. Ele possibilita a expansão da consciência humana a partir de visões, sensações, memorias e pensamentos profundos. A Ayahuasca é uma bebida consumida há milênios em rituais xamânicos ameríndios, induzindo tais estados alterados da mente. Como bebida, ela é classificada enteógena, ou seja, uma substância psicoativa que induz uma experiência de transcendência e contato com o divino. Um dos efeitos mais relatados da Ayahuasca é a dissolução do ego. O desmanchar do “eu” como conceito vem acompanhado do fenômeno cunhado na psicologia analítica como ‘morte psíquica’. Essa morte meta/eufórica viabiliza a realização da comunhão com um todo universal e gera uma consciência de plena união. A consagração da Ayahuasca possui um caráter central para a manifestação espiritual dos povos da floresta. O ritual permite a visita ao reino das divindades, e a partir dos contos e histórias vividas durante esses estados de transcendência é concebida uma mitologia que assegura coesão social através de ritos compartilhados.


Amphilophium crucigerum

Pente-De-Macaco

Conhecido tanto como Amphilophium crucigerum quanto como Pithecoctenium crucigerum, o Pente-De-Macaco é uma trepadeira nativa do México, cujo fruto é “espinhoso”, suas flores têm formato de sino branco e amarelo e suas sementes são aladas. Essas qualidades únicas deram a essa planta um papel no folclore maia. Diz-se que La Xtabay, uma figura mitológica do México, mais especificamente de Yucatán, flutua acima de uma árvore Ceiba com um vestido branco e penteia o cabelo com o fruto espinhoso do Pente-De-Macaco. Ela era irmã de outra linda mulher chamada Xkeban, mas elas tinham abordagens opostas sobre como essa beleza poderia ser utilizada no relacionamento com os homens. Enquanto uma irmã tinha diversos relacionamentos, a outra se orgulhava de ser pura. Esse folclore gira em torno de como essa pureza não é tão importante quanto ser uma pessoa gentil. Embora pura, Xtabay não conseguiu superar a inveja e a amargura, e, segundo a história, ela segue a “seduzir e punir homens”. Ao longo dos anos de colonização, diz-se que essa história mudou, nomeadamente com a chegada dos espanhóis e a difusão do cristianismo. Através de uma lente cristã, o papel da árvore e do fruto foi diminuído e o conceito da pureza exacerbado.


Mauritia flexuosa

Buriti

A Mauritia flexuosa, também conhecida como Buriti, é uma espécie de palmeira da família Arecaceae, nativa da região amazônica. O Buriti é amplamente distribuído em toda a bacia amazônica, mas também pode ser encontrado no Cerrado e na Caatinga. O fruto do Buriti é imensamente relevante para populações tradicionais do sertão por fornecer alimento de alto valor nutricional em períodos de escassez na roça e em áreas consideradas inóspitas. Além disso, a presença de um buritizal indica que há água no solo – ela simboliza um oásis. Suas folhas podem ser usadas para a produção de cordas e redes resistentes, e faz parte de culturas nômades indígenas milenares, que contavam com essa palmeira para diversos aspectos de suas vidas. Essa utilidade indica que a abundância dessa espécie em certas áreas da floresta aponta para o resultado de um semi-cultivo na antiguidade, e portanto é visto como um sítio arqueológico. Hoje, a agropecuária ameaça a sobrevivência dessa espécie; por isso, há medidas de proteção por Unidades de Conservação no nordeste brasileiro.


Jacaranda mimosifolia

Jacarandá Mimoso

O jacarandá-mimoso é uma espécie ornamental utilizada na arborização urbana de diversas cidades brasileiras, por conta da sua florada azul e roxa exuberante que atrai beija-flores. No entanto, em seu habitat de origem no sul do Brasil, Argentina e Bolívia, essa árvore é considerada vulnerável. Kate Sessions, uma das primeiras mulheres a estudar na universidade de Berkeley na Califórnia, se formou em ciências naturais e é venerada por ter trazido a Jacaranda mimosifolia para o estado americano no fim do século XIX. Seu trabalho de paisagismo foi altamente cobiçado, e hoje uma estátua dela no parque Balboa em San Diego é a única na cidade a honrar uma figura histórica feminina. Essas sementes de jacarandá-mimoso foram adquiridas para o projeto Seeds and Tales de guardiões de sementes do Estado de Minas Gerais, Brasil.


Cedrela fissilis

Cedro Rosa

O Cedro Rosa é uma Árvore que ocorre naturalmente da Costa Rica até o sul do Brasil. Sua madeira possui tons rosas e vermelhos, e é usada para “perfumar ambientes”. Infelizmente, ela é considerada uma espécie vulnerável, pois sua população está em declínio por conta da expansão urbana, agricultura e exploração madeireira. A madeira da Cedrela fissilis foi icônica na criação do estilo “barroco guarani”, uma identidade artística do início da formação do Brasil como país, composta por esculturas religiosas. Diz-se que os índios Guarani veem essa árvore como a que deu origem a todas as árvores, após um “cataclismo que destruiu o mundo”. Sua semente foi trazida por um pássaro, e dela, toda a vegetação renasceu. Missionários cristãos usaram essa lenda para evangelizar indígenas no conjunto de aldeias chamado Sete Povos das Missões. Através de representações de figuras da mitologia cristã esculpidas do cedro avermelhado, foram geradas figuras com feições semelhantes as dos povos indígenas. Eventualmente, no meio do século XVIII, essas comunidades jesuíticas-guaranis entraram em guerra com a coroa portuguesa no que hoje chamamos de Guerras Guaraníticas. Um grupo de coletores de sementes em Minas Gerais, Brasil, forneceu esse espécime para o projeto Seeds and Tales.


Swietenia macrophylla

Mogno brasileiro

O Mogno brasileiro é uma variedade de uma árvore endêmica neotropical encontrada o Brasil. Hoje, ela se encontra classificada no appendix II da Convenção sobre o Comércio Internacional de Espécies da Fauna e Flora Selvagens Ameaçadas de Extinção (CITES). Isso significa que ela é considerada em risco de extinção se sua comercialização como madeira não for controlada. No período clássico Maia, por volta de um milênio atrás, a Swietenia macrophylla era abundante. Essa abundância foi proporcionada pela cultura de cultivo maia, e combinava a roçada com a agricultura intensa. A colheita altamente lucrativa dessa árvore durante o período colonial dizimou essa população e o legado ambiental dos maias. Essa semente foi adquirida de um coletor de Brasília, Brasil, especializado na identificação e mapeamento de árvores matrizes selvagens. Essas matrizes são centrais no potencial de propagação de sua família, como uma matriarca.


Dalbergia nigra

Jacarandazinho do Campo, Jacarandá da Bahia

A madeira da Jacarandá-da-bahia é procurada por ser considerada de qualidade por 3 séculos, especialmente para a produção de instrumentos musicais. Infelizmente, ela foi praticamente levada à extinção e, hoje, é um desafio combater sua comercialização ilegal na Europa. Ela é uma das primeiras madeiras a serem listadas como proibidas no comércio internacional por conta de seu estado de vulnerabilidade. Essa semente foi doada ao assentamento Mário Lago em Ribeirão Preto, no estado de São Paulo, Brasil.


Araucaria angustifolia

Araucária

A araucária é encontrada na mata atlântica do planalto meridional, que cobre grande área do Sul do Brasil. Ela é gigante, podendo atingir mais de 50 metros de altura, e está criticamente ameaçada de extinção. O ‘Parque provincial de la Araucaria’, na província de Misiones na Argentina, é dedicada a preservação da floresta do Alto do Paraná, um dos biomas mais ameaçados do planeta. Essa ameaça se dá por conta da expansão da agricultura em geral, mas também por ter sido o palco da maior disputa armada da América Latina, a Guerra-Guaçu. A Província de Misiones, originalmente lar do povo Guarani, virou alvo de disputa de delimitações de fronteiras de estados em formação, que seguiam o modelo europeu de administração governamental e de desenvolvimento agricultural. As sementes, chamadas de pinhão, são notoriamente consumidas e dispersadas por aves como a gralha-azul. Para os indígenas Xokleng, o pinhão é um símbolo cultural, que os levou ao nomadismo e foi crucial em suas relações diplomáticas com povos de outras etnias. Hoje, eles são pioneiros na preservação da Araucária, em Santa Catarina.


Copdiferd ldngsdorffii

Copaíba

Essa semente foi coletada na cidade de Caxambu, no sul de Minas Gerais. No estado de São Paulo, a Copaíba é listada como ameaçada de extinção, e esforços de preservação acontecem “ex situ”, ou seja, fora de seu habitat natural, assim como dentro dele. Numa cidade do Paraná, um dos incentivos à preservação tem sido descontos no preço do IPTU de propriedades urbanas que praticam a manutenção dessas árvores. Para o povo indígena Kuikuro, a Copaíba tem um dono divino, que proporciona uma tinta para lutadores se pintarem e, assim, se protegerem. De fato, é possível extrair um óleo de seu tronco com propriedades cicatrizantes. Mais recentemente, essa resina também tem sido testada como combustível para carros.


Pterodon emarginatus

Sucupira branca

A árvore Sucupira branca é de grande porte e é cobiçada por sua madeira de qualidade. Talvez por isso ela esteja listada como ameaçada no estado de São Paulo. Suas propriedades medicinais, como o óleo da semente, incluem qualidades antiinflamatórias e foram desenvolvidas em produtos farmacêuticos. Essa semente foi adquirida de um projeto de reflorestamento do bioma do cerrado.


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